A França não é os Estados Unidos e, embora a primeira-dama tenha mais presença –e atenção midiática– do que os cônjuges de outros mandatários europeus, o resto da família do presidente costuma ficar num discreto segundo plano. Isso também aconteceu largamente durante os dois anos e meio que Emmanuel Macron, de 41 anos, está no Palácio do Eliseu. A família de sua esposa Brigitte Macron, de 66 anos, que tem três filhos de seu primeiro casamento cujas idades são próximas à do presidente, raramente é mostrada em público.
“Estamos em 2019 e há líderes políticos
que atacam uma mulher pública por seu físico”, explica Auzière em um
curto vídeo que postou em suas redes sociais e no qual chama para
colocar –e denunciar– a questão da misoginia nas discussões “em família,
nas empresas e nas urnas”. Enquanto fala, a filha de Brigitte Macron
mostra várias notícias sobre os insultos do Governo de Jair Bolsonaro
à mãe. Estes começaram depois que Macron criticou o presidente
brasileiro por sua resposta aos devastadores incêndios na Amazônia e ameaçou vetar o acordo da União Europeia com o Mercosul.
O confronto atingiu o auge durante a cúpula do G7 que a França
organizou em Biarritz no fim de agosto e na qual Macron incluiu a
Amazônia na agenda. Um detalhe que desagradou Bolsonaro, que, entre
outros, começou a atacar Brigitte Macron.
O presidente
brasileiro fez um comentário em tom jocoso em uma mensagem no Facebook
em que um usuário comparava desfavoravelmente a primeira-dama francesa e
a brasileira, Michelle Bolsonaro, de 37 anos. Macron não deixou passar a
ofensa e, em uma entrevista coletiva em Biarritz, lamentou a situação e
manifestou sua esperança de que os brasileiros consigam ter um
presidente que “esteja à altura”.
A atitude de Bolsonaro e a reação da França fez que muitos brasileiros, inclusive figuras conhecidas, como o escritor Paulo Coelho,
pedissem desculpas à primeira-dama francesa com a hashtag
#DesculpaBrigitte. Em um raro gesto, Brigitte Macron aproveitou um
evento no fim de agosto para responder com um “muito obrigada”. Mesmo
assim, os insultos continuaram. “O presidente [Bolsonaro] disse isso e é
a verdade. Essa mulher é feia mesmo”, disse o ministro da Economia, Paulo Guedes, na quinta-feira.
Pouco depois, Tiphaine Auzière respondeu com seu ataque à misoginia nas redes sociais, que faz eco da versão francesa do movimento MeToo de 2017,
quando uma jornalista dessa nacionalidade convidou as mulheres a
denunciar casos de abusos sexuais sofridos com a hashtag #balancetonporc
(“denuncie seu porco”). O vídeo já foi visto por quase meio milhão de internautas.
A
advogada, de 35 anos, é a mais midiática dos filhos que Brigitte Macron
teve com o primeiro marido, o banqueiro André-Louis Auzière. A
primeira-dama ainda estava casada com ele quando conheceu quem se
tornaria seu segundo marido. Foi em 1993, quando era professora de
francês e teatro em um colégio jesuíta em Amiens e Emmanuel Macron um de
seus alunos, da mesma idade e colega de classe de sua filha do meio,
Laurence, apenas sete anos mais velha que Tiphaine.
Embora
seus irmãos mais velhos também tenham aparecido ocasionalmente e
apoiado desde o início o candidato Macron, Tiphaine tem sido o rosto
mais visível da primeira família da hoje primeira-dama. Casada e mãe de
dois filhos, fez campanha ativamente para Emmanuel Macron e foi
fotografada várias vezes ao lado do casal presidencial nesses anos no
Eliseu, mas a defesa de sua mãe no Twitter é provavelmente o gesto mais
forte até agora.
conteúdo
Silvia Ayusio
Paris
El País
Nenhum comentário:
Postar um comentário