A crise ambiental provocada pelo aumento dos incêndios na Amazônia brasileira se refletiu com força no mercado financeiro. Nesta quarta-feira, um total de 230 fundos de investimento internacionais que juntos administram 16 trilhões de dólares (cerca de 65 trilhões de reais) –valor equivalente a cerca de nove vezes o PIB do país em 2018– publicaram um manifesto, colocando mais pressão para que o Governo brasileiro apresente medidas efetivas para proteger a floresta amazônica e deter o desmatamento.
Em um contexto de aumento da degradação e de
debilidade na fiscalização ambiental no Brasil, empresas e fundos de
investimento manifestaram preocupação com o impacto financeiro que o
desmatamento na Amazônia pode ter nas empresas nas quais possuem
participações, o que poderia aumentar os riscos de reputação,
operacionais e regulatórios.
Os 230 fundos de
investimento que colocaram mais pressão no Governo Bolsonaro nesta
quarta-feira pedem às empresas que “redobrem seus esforços e demonstrem
um claro compromisso de eliminar o desmatamento em suas operações e
cadeias de abastecimento”. Trata-se de um grupo grande que investe um
valor em torno de nove vezes o PIB brasileiro do ano passado. Nesse
sentido, seu manifesto pode ter uma força importante para alertar as
empresas que são coniventes com o desmatamento.
A
responsabilidade ambiental, social e de governança (conhecida sob a
sigla em inglês ESG) é um critério crescente nas carteiras de fundos de
investimento em todo o mundo, como reflexo dos grupos de pressão na
sociedade organizados em torno da luta contra a mudança climática. Na
semana passada, grupos liderados pela ESG disseram que a onda de
incêndios no Brasil entrou no radar.
O Brasil registrou
entre janeiro e a terceira semana de agosto um total de 71.497 focos de
incêndio, o maior número do mesmo período nos últimos sete anos, e pouco
mais da metade ocorreu na maior floresta tropical do mundo.
“Considerando o aumento das taxas de desmatamento e os recentes
incêndios na Amazônia, estamos preocupados que as empresas expostas ao
possível desmatamento em suas operações e cadeias de abastecimento
brasileiras tenham cada vez mais dificuldades para ter acesso aos
mercados internacionais”, diz a nota conjunta dos 230 fundos de
investimento.
Eles se juntam a mais empresas e outros fundos de investimento que já tinham reagido nas últimas semanas contra a política ambiental do presidente Jair Bolsonaro.
O presidente minimizou a mudança climática e o desmatamento ilegal,
assim como rejeitou as críticas de países como França e Alemanha. Sem um
plano ambicioso para enfrentar a mudança climática, o presidente nem
sequer poderá discursar na cúpula da ONU na próxima semana. A
Organização havia solicitado aos países que apresentassem um plano com
seus compromissos climáticos e selecionou os 63 que tinham os discursos
mais inspiradores. O Brasil ficou fora dessa lista, assim como os
Estados Unidos e outros países.
A crise ambiental
brasileira se tornou um golpe na imagem internacional do país. Há pouco
menos de duas semanas, a gigante da moda H&M anunciou a suspensão, com efeito imediato, da compra de couro brasileiro.
Alegou “a conexão dos graves incêndios da Amazônia com a pecuária”. A
decisão, segundo a empresa, ficará em vigor “até que existam sistemas de
controle confiáveis de que o couro não contribui para os danos
ambientais na Amazônia”.
O Brasil sofre uma campanha de
boicote aos seus produtos, promovida por empresas internacionais que têm
uma clientela cada vez mais preocupada com a mudança climática. Além da
H&M, as empresas VFcorp, Vans e The North Face também anunciaram
que deixariam de comprar couro brasileiro.
conteúdo
Beatriz Jucá
São paulo
El País
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