Uma mudança nas correlações políticas do país fez com que a oposição ao Governo Jair Bolsonaro (PSL) mudasse de posicionamento e desistisse de pedir a federalização da investigação do assassinato da vereadora pelo Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL) e do motorista dela, Anderson Gomes. “Quem confia na Polícia Federal sob o comando do ministro Sergio Moro?
Eu não confio”, afirmou o deputado federal Ivan Valente, líder do PSOL na Câmara. Quando pediu a federalização do crime, quem presidia o país era Michel Temer (MDB). E a Procuradoria Geral da República era comandada primeiro por Rodrigo Janot, depois por Raquel Dodge. Ela, por fim, chegou a pedir a federalização das apurações, que ainda não foram julgadas pelo Superior Tribunal de Justiça.
Segundo Valente, a postura do atual procurador-geral da República, Augusto Aras,
não traz confiança. Aras foi conduzido ao cargo por Bolsonaro mesmo não
tendo participado da eleição interna de procuradores que elegeu uma
lista tríplice para ser analisada pelo presidente. Ou seja, para chegar
ao cargo, precisou se valer de seu contato político e da bênção
primordial de Bolsonaro (que disse ter tido “um amor à primeira vista”
por Aras).
Nesta quarta-feira, Augusto Aras e o Ministério Público do Estado do Rio anunciaram que rejeitaram qualquer relação
entre o presidente Bolsonaro e os ex-policiais que são acusados de
assassinar Marielle e Anderson. Afirmaram ainda que a testemunha que
teria apontado essa relação, o porteiro do condomínio do presidente, mentiu. A perícia dos áudios foi concluída nesta quarta-feira "ou ontem", segundo o procurador-geral.
Outros
opositores também reclamaram da postura do ministro da Justiça, Sergio
Moro, que seguiu uma ordem de Bolsonaro e pediu para a PGR abrir um
inquérito com base no depoimento do porteiro. Moro alegou que a
testemunha pode ter cometido os delitos de falso testemunho, denunciação
caluniosa e obstrução à Justiça. “O ministro age como advogado do
presidente, o que não e admissível”, reclamou a líder da minoria na
Câmara, Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
Na mesma linha,
seguiu o líder do PSB na Câmara, Tadeu Alencar. “Bolsonaro não é o dono
do Brasil porque ganhou as eleições. Ele precisa respeitar as
instituições. E o respeito é fazer com que elas executem suas tarefas
constitucionais”.
Em outra frente, a oposição a Bolsonaro
no Senado protocolou um pedido de criação de uma comissão parlamentar
para acompanhar as investigações do caso Marielle, também solicitou ao
Governo do Rio de Janeiro que o porteiro que depôs à Polícia Civil seja
incluído no programa de proteção à testemunha e ainda tentará convocar o
ministro Sergio Moro para depor na Comissão de Fiscalização da Casa.
“Um fato que envolve o mandatário com o maior cargo da nação precisa ser
investigado detalhadamente”, ponderou o líder da oposição Randolfe
Rodrigues (REDE-AP).
Defensores de Bolsonaro minimizaram as ações da oposição. “Todo esse escândalo foi baseado em uma fake News da
Rede Globo. As autoridades têm de trabalhar com provas, não com
mentiras”, reclamou o deputado Delegado Pablo (PSL-AM). E ainda
defenderam a investigação do porteiro que disse à Polícia Civil que um
dos assassinos de Marielle e Anderson entrou no condomínio Vivendas da
Barra após ter sido autorizado por alguém que estava na casa de
Bolsonaro. “Se o Ministério Público diz que ele mentiu, tem de
averiguar. Qual foi a intenção dele de mentir? Ele foi estimulado a
mentir? A verdade há de surgir”, afirmou o líder do PSL no Senado, Major Olímpio Gomes.
Protestos
Estimulados
pela reportagem da Rede Globo que vinculou Bolsonaro à morte de
Marielle e Anderson, movimentos sociais convocaram para o próximo dia 5
de novembro um protesto pelas ruas do Brasil. “O tom será elevado pelos
movimentos sociais porque estamos contra toda a política desse Governo”,
afirmou o presidente da União Nacional dos Estudantes, Iago Montalvão.
Os
militantes também reclamaram de um discurso de Eduardo Bolsonaro, filho
do presidente e líder do PSL na Câmara, que ameaçou uma repressão caso o
Brasil registrasse protestos como os que ocorreram no Chile nas últimas
semanas.
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Afonso Benites
Brasília
El País
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